Pênalti é loteria?
- João Paulo
- 28 de dez. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de dez. de 2024
Passadas calculadas, sejam largas ou curtas. Pensamentos que mergulham em profundezas enquanto o relógio avança sem perdão. Em questão de segundos, decisões tomadas podem elevar alguém ao paraíso ou lançá-lo ao submundo.
A ignorância persiste na mente daqueles que ainda repetem a velha frase: "Pênalti é loteria". Entretanto, essa crença se dissolve a cada giro do ponteiro, enquanto a tese de que pênalti é estudo e preparo mental se fortalece continuamente.
Na última rodada da Premier League, Pickford defendeu um pênalti cobrado por Haaland no empate por 1x1 entre Manchester City e Everton. O goleiro inglês, mais uma vez, levou ao campo sua famosa "cola" na garrafa d'água, onde constavam percentuais sobre os lados preferidos pelos principais batedores da equipe adversária. Além disso, momentos antes da cobrança, Pickford usou de gestos provocativos para tentar desestabilizar Haaland.

Créditos/Reprodução: X Premier League
O arqueiro inglês combinou ciência com astúcia e saiu vitorioso no duelo da marca penal. Isso reforça a importância do fator psicológico quando o tema é pênaltis.
Recentemente, Hugo Souza, goleiro do Corinthians, revelou em um podcast que, durante uma disputa de pênaltis pela Copa Sul-Americana contra o Red Bull Bragantino, conseguiu identificar sinais de nervosismo estampados nos rostos de alguns jogadores adversários. "Ele veio respirando fundo... respirando fundo... respirando fundo", disse Hugo no Podpah, ao descrever como a respiração ofegante de um dos cobradores entregou seu estado emocional, bem como, fortificou a sua estratégia e ajudou a defender três pênaltis e conquistar a classificação.
No livro O Que Todo Corpo Fala, Joe Navarro afirma: "Assim como ouvir atentamente é crucial para compreender nossa comunicação verbal, a observação cuidadosa é essencial para entender nossa linguagem corporal". Nesse contexto, a tática utilizada por Hugo Souza não apenas o ajudou a identificar o nível de ansiedade dos adversários, mas também contribuiu para que ele mantivesse o próprio controle emocional.
Ele que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir vai se convencendo de que nenhum mortal é capaz de guardar segredo. Se os lábios estiverem em silêncio, ele vai tagarelar com a ponta dos dedos; traição exsuda por todos os poros. Sigmund Freud, Conferências introdutórias á psicanálise
Em disputas de pênaltis, é comum observarmos uma enxurrada de emoções. Alguns jogadores deixam transparecer claramente como se sentem, enquanto outros mascaram seu estado momentâneo, tentando transmitir confiança ou serenidade. Essa complexidade emocional torna a leitura corporal e o preparo mental ferramentas essenciais para goleiros e batedores.
Assim, fica evidente que pênaltis não são uma questão de sorte ou acaso. São fruto de estudo, preparo técnico e, principalmente, controle emocional. A marca da cal é um território onde ciência, psicologia e habilidade se encontram, decidindo jogos e até campeonatos. Não é loteria: é uma arte que exige precisão, estratégia e mente inabalável.
Por João Paulo de Castro
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